Ao pronunciarmos a palavra hipnose provavelmente teremos 3 reações: uma curiosidade imensa, nervosismo ou ceticismo. Desde que a hipnose despertou o interesse científico, observamos estas reações. Hoje, considerada uma ciência independente, que aliada a terapia alcança resultados inacreditáveis.
Tudo começa nos tempos antigos, quando os sacerdotes egípcios teriam utilizado a hipnose para curar as pessoas, empunhando as mãos sobre elas enquanto elas caiam em um sono profundo, técnica usada pelo menos a mais de 3.000 anos.
Os gregos também se beneficiaram desta técnica , utilizando-a nos conhecidos templos do sono, onde as pessoas se deitavam e dormiam. Durante o sono, acreditava-se que a cura viria através dos sonhos.
Nos tempos antigos observa-se também a ação do poder da mente na época do Rei Pirro, que era conhecido por curar doenças quando tocavam seu dedão do pé, ou até mesmo Felipe I que utilizava também o toque para promover curas, embora não associa-se ao seu pé.
Isto mostra o que chamamos então de poder da sugestão, que mais tarde foi utilizado e explorado pelos hipnotizas modernos.
O Magnetismo Animal de Mesmer
Franz Anton Mesmer, nascido em 1734, foi um dos grande nomes da história da hipnose. Estudou teologia e direito antes de sua fama e fortuna com a medicina. Formado pela famosa Escola Médica de Viena, Mesmer adorava estudar sobre planetas e os movimentos da maré, o que ajudou a aumentar seu interesse pelos efeitos das influências externas sobre o corpo.
Mesmer sugeriu, em sua tese, que existiria uma espécie de fluído universal, capaz de influenciar através de grandes objetos, como planetas, sobre outros objetos, como o corpo humano. Foi a partir daqui que Mesmer investiu em sua pesquisa e a tornou conhecida como "magnetismo animal".
Com a ajuda de imãs e barras de ferro, Mesmer acreditava que poderia manipular este fluído magnético, afim de curar várias doenças, incluindo os distúrbios. O seu objetivo era estabelecer uma "polaridade magnética" entre ele o paciente.
No ano de 1784, o governo francês criou uma comissão para investigar as teorias de Mesmer. Esta comissão reuniu diversos nomes famosos da ciência, incluindo Benjamin Franklin (presidente da comissão), Lavoisier, Joseph Guillotin (criador da guilhotina) entre outros.
Infelizmente a comissão científica da época focou-se nas teorias de Mesmer e não em seus feitos clínicos, concluindo que o fluido magnético não existia e que o trabalho era tudo um produto da mente.
O legado de Mesmer
O seu grande feito para a hipnose, nos tempos modernos, foi ter revelado a importância da sugestão e o poder desta sobre o paciente em transe, mesmo que o próprio Mesmer não tenha percebido isto naquela época.
As barras de ferro, os imãs e a limalha por si próprios, eram ineficazes, mas podem ter ajudado a focar a mente do paciente ampliando a receptividade do mesmo para a sugestão implícita de que iriam ser curados pelo tratamento.
Avanço da Hipnose
Com o avanço das teorias do Magnetismo, a ideia da existência de um fluído magnético foi desaparecendo e cada vez mais ia dando-se ênfase ao uso da mente e da vontade.
O abade português, José de Faria, que ficou famoso por suas exibições, estudou muito sobre o magnetismo animal de Mesmer e trouxe duas importantes contribuições importantes para o progresso da hipnose.
A primeira seria a ideia de levar os pacientes a olhar fixamente para um objeto, geralmente a sua própria mão e a segunda seria a importância do estado de transe como sendo aquele em que a mente está mais aberta a sugestões.
Hipnose e Medicina
Uma das maiores contribuições e aplicações da Hipnose se deu por volta de 1840, quando um médico britânico chamado James Esdaile realizou na Índia centenas de operações e até mesmo amputações usando o mesmerismo. Utilizando a hipnose para sugerir anestesias, ele eliminava a dor dos pacientes durante operações.
Esdaile, em seu hospital na Índia, conseguiu baixar a taxa de mortalidade pós-operatória de 50% para 5% utilizando hipnose em pacientes submetidos a cirurgias. Entretanto seu êxito não refletiu, naquela época, na expansão da hipnose em cirurgia, pois na mesma época tornou-se comum o uso do éter e do clorofórmio como anestésicos.
Naquele tempo, outra figura importantes para o crescimento da hipnose foi o médico John Elliotson, que ao se aventurar no mundo da hipnose, já era um médico bastante respeitado, fazendo assim, com que o debate a cerca da hipnose no meio médico britânico fosse garantido.
Surge o termo e o pai da hipnose
Apesar de hoje em dia Mesmer ser considerado o pai da hipnose por sua contribuição através do magnetismo, alguns autores dão este título a ninguém menos que James Braid. Ele foi tudo aquilo que Mesmer não foi, metódico e mais científico em suas abordagens e que dava pouca atenção a exibições.
Ansioso em compreender mais sobre o mesmerismo, Braid estudou durante dois anos para então publicar seu primeiro livro, ao qual chamou de Neurypnology. Foi neste livro que usou o termo hipnotismo pela primeira vez, derivado do nome do deus grego do sono, Hipnos. Negou a existência do fluído magnético e via a hipnose como um fenômeno psicológico.
O próprio Braid percebeu mais tarde que o termo hipnose não estava correto para aquilo que o fenômeno representava, pois hipnose não envolvia sono. Mais tarde sugeriu o termo "monodeísmo", que significa fixar a atenção em uma idéia, entretanto ja era tarde demais, pois o termo já havia criado raízes no mundo.
Hipnose no tratamento da Histeria
Um contribuição importantíssima na França a cerca da hipnose deve-se ao famoso médico Jean-Martin Charcot (1825-1904), conhecido como o "napoleão das neuroses". Ele foi um cientista que se especializou em neurologia e teve sua curiosidade despertada pela hipnose.
Charcot foi conhecido também por aplicar a hipnose em seus pacientes, no seu famoso Hospital de Salpêtrière (Paris), para tratar doenças, em principal a histeria. Por meio da hipnose ele induzia em seus pacientes sintomas semelhantes a histeria, como por exemplo, reações histéricas ou paralisias, com objetivo de estudar os sintomas e descobrir a causa dessa e de outras doenças como a neurose.
Contribuiu também para o nascimento da Psicanálise, quando criou uma nova forma de clínica, em que atendia os pacientes em seu consultório e não mais em seus leitos, fazendo assim com que Freud, o pai da psicanálise, o admirasse e enveredasse também anos estudos da histeria.
Naquela época, a famosa Escola de Nancy, divergia do pensamento de Charcot a cerca da hipnose. Um dos pontos em que as escolas discordavam era se uma pessoa em transe podia ou não ser persuadida a fazer algo contra sua vontade. Para Nancy o hipnotizado obedecia a vontade do hipnotizador e para Charcot o hipnotizado não perdia sua personalidade sob hipnose.
Hoje, sabemos que as pessoas atendem a sugestões sobre hipnose e que não há controle da mente algum do hipnotista sobre o hipnotizado. Sabemos que hoje para uma pessoa entrar em transe, ela precisa de uma certa maneira querer passar pela experiência.
A Hipnose Moderna
No século XX a hipnose teve dois grandes nomes que se destacam. Milton Erickson e Dave Elman. Milton Erickson foi um médico psiquiatra dos Estados Unidos, que atraiu-se pela hipnose através de uma apresentação do então acadêmico Clark Hill, um dos psicólogos mais respeitados da época.
Erickson defendia que a mente inconsciente é um instrumento terapêutico de auto cura incrivelmente poderoso, que dentro de cada um de nós se encontrava a capacidade de nos ajudarmos e curarmos a nós próprios. Ele enfrentou em sua juventude sérios problemas de saúde, como a poliomielite, o que o deixou em cadeira de rodas em seus últimos anos.
Afirmava que passar pela experiencia de enfrentar uma doença confinante o tornou mais consciente do movimento físico e de como as pessoas comunicavam verbalmente e não verbalmente, o que o ajudou a observar e a compreender as reações dos pacientes. Surge aí a hipnose ao qual chamamos de hipnose naturalista.
Já Dave Elman, foi um filho de um hipnotizador de palco, que criou técnicas de induções rápidas e eficazes. Ele dava bastante ênfase a necessidade de contornar o fator crítico da mente consciente para poder atingir o estado de transe. Ele foi um hipnotista brilhante que formou também diversos médicos e dentista e escreveu os relatos de suas experiência em um livro ao qual chamou de Hypnoterapy.
A medida que chegava-mos a segunda metade do século xx, o uso terapêutico da hipnose, a hipnoterapia, entrou em expansão. Juntamente com isto, surgiu duas teorias a cerca da natureza da hipnose.
Para Erickon, quando estamos concentrados em uma idéia, já estamos em hipnose, ou seja, a hipnose seria um estado de auto-concentração. Já para o Dave Elman a hipnose só aconteceria quando temos a alteração da percepção de realidade.
Para Elman, ler um livro com uma imersão é apenas um estado de auto-concentração. Em seu livro Hypnoterapy ele descreve a diferença de hipnose e sugestão em vigília. Quando bocejamos por exemplo, da vontade de bocejar em outras pessoas. Para ele isto não seria hipnose e sim sugestão em vigília. Agora a partir do momento em que nós colamos a mão da pessoa e não há cola alguma nas mãos, de um certo modo, alteramos a percepção da realidade, isto então, seria hipnose.
Hipnoterapia
Nos tempos modernos a hipnose ganha cada vez mais espaço, e graças a esses dois gênios, Erickson e Elman, o campo científico pode ampliar seus pensamentos sobre a hipnose e dar margem a hipnoterapia.
Para os hipnoterapeutas modernos, hipnose é um estado natural da mente humana, que pode ser produzido de maneira espontânea ou induzida.
A hipnoterapia é a utilização da hipnose no contexto clínico, que ajuda pessoas a acessar a mente inconsciente, a mente que guarda as emoções, para encontrar os gatilhos associados a problemas emocionais e ressignifica-los.
Atualmente no Brasil,
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